sábado, 2 de outubro de 2010

1/10/2010


É tarde, pouco mais de 15 h, estou na casa do Fábio, irmão que a vida me deu, ao lado dele.
Como sua companhia é aconchegante como colo de pai. Sento-me aqui olhando a chuva que cai lá fora. Pela sacada dá para ver o tempo bem fechado.
Olho as paredes e são tão tranquilizantes aos meus olhos, os papéis de parede em tons pastéis, um com caracóis e pequenas conchas coloridas; outra com riscados de azul e creme. Os móveis escuros dando um ar sóbrio. Em uma das paredes dois quadros, um deles com um de meus desenhos. Só um amigo faria um quadro com um desenho de alguém que não tem técnica e ainda diria que é bonito. Como um pai que coloca o desenho que o filho fez no jardim da infância no seu escritório. A dama vestida de plumas e cetim verde fiz e um dia levei para ele ver, como ele gostou dei a ele, mas daí até virar um quadro é outra história, só mesmo este irmão lindo. Sei que beleza que ele vê é o meu carinho por ele, a intensidade de mim em cada traço e cor.
Tenho estado encolhida em mim nestes dias em decorrência do estresse, hoje fiquei em casa dormindo até as 13 h só sai porque tinha que levar meu atestado para marcar perícia, coisas do funcionalismo público. Decidi passar aqui para pegar mais um exemplar do novo livro do meu grande mestre, escritor Fábio. Este por encomenda do meu filho Ricardo.
Cheguei aqui acabada, sem maqueagem, cabelos mal penteados, vestida com a primeira roupa que encontrei na minha frente, sapatilhas, coisa que não é muito natural para mim. Sem qualquer interesse de ser vista caminhei pelas ruas semi-morta até encontrá-lo.
No momento em que o vi, senti-me protegida. Subimos e ele já estava atrasado com sua medicação. Tomou-a e imediatamente teve que deitar-se como é praxe. A chuva começou cair torrencialmente e eu fiquei aqui ao seu lado. Vendo-o sofrer com as horríveis dores e vertigens. Como eu queria poder aplacar seu sofrimento. Meu querido enquanto você se recuperava de sua dose cruel, porém indispensavel de medicação eu o observei de olhos fechados. Deus sabe como se sente nestas horas. Orei para que Ele fosse consigo.
De certo modo acho que o encontro aí com minhas limitãções e vc com as suas. Não sei se é justo que eu compare meu sofrimento ao seu, mas na devida proporção do que cada um é capaz de suportar, comparo-o. Você tão forte, enfrentando um câncer que tem dilacerado seu corpo há mais de dez anos e eu fraca, com a depressão que dilacera minha mente. Sou apenas um pequeno impacto do meu transtorno bipolar, um pedaço destroçado de mulher e humanidade nestas horas. Em breve voltarei a ser semi-livre, mas você ainda continuará aqui aprisionado a esta maldição. Mesmo assim, será um colosso de ser humano lindo, que consegue resistir a cada queda, a cada fase, a cada nova fase de delírio e dor.
Oh amado irmão que me inspira e elege como parte de sua vida, como morada do seu ser. Honra-me com amizade tão ilustre. Perdoa-me por tamanho incômodo em sua hora de repouso, Perdoe-me por usurpar do teu espaço/tempo e de fazer dele meu alento. Não quero ser incômodo, sei que nem tampouco sou comanhia, pois nessas horas a solidão sim é sua melhor cria, mas ainda assim insisto em estar aqui por esse tempo. Insisto em ter-lhe por perto de mim para ser forte. Meu consorte da poesia, a quem primo merecer dia-após-dia.
Ouço o barulho da cidade, carros, ônibus, buzinas e remeto-me daqui a um tempo já longínquo. Quando vivia com minha tia amada bem pertinho daqui. Naquela época eu era juventude e esplendor, amada dos homens, forte e inteira. Beleza e disposição compunham uma tentadora canção ao ouvido e olhos de todos. Mas nas horas de iquietude e sofrimento, era na minha tia em que eu me encontrava amiúde. No fundo sempre precisei de um colo. Um acolhomento para me fazer andar quando fraca, um recordar de quem eu sou e de que sou capaz. Condições que vocês dois de igual modo me proporcionam.
Agora estou aqui sentada em seu chão, me sinto tão criança e emoção. O sinto tão valente, minha redoma e redenção. Amigo, irmão, poeta, minha satisfação.
Aqui sou tão livre das celeumas do meu mundo, dos preceitos e preconceitos, sem medo, sem estígmas, sem camuflagens ou máscaras, sou apenas eu quando aqui estou.
Como agradeço a Deus por você existir em mim para meu sempre. Do modo como ela, amada tia é em mim tão presente.

A conclusão disto é que para quem pretendia passar o dia e a noite na cama, voltei para casa cantando. Me preparei a noite e fui a um churrasco na casa de amigos. Foi realmente delicioso estar lá com meus queridos amigos.

Sabe as vezes penso que o que preciso para estar sempre bem não é muito difícil de se oferecer, mas tenho consciência de que pouquissimas pessoas no mundo se predispõe a isto. Felizmente tenho uma delas perto de mim.

2 comentários:

  1. Teresa, fiquei emocionada com o relato! Pois tive uma forte identificação! o que seria de mim, sem alguns amigos que já me salvaram dos piores momentos devido ao trastorno bipolar. pensei neles agora, acho que os fiz sofrer mas ainda assim, estão por perto, torcendo por mim! Cada vez mais sinto carinho pelo Fabio e por ele estar ao teu lado, mesmo com suas próprias dores.Voltarei. Beijos com meu carinho, Aninha

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  2. Aninha querida! Amigos são assim pessoas que nos amam independente do que somos. Agradeço imensamente por seu carinho e postagem. Volte sempre e sempre. Beijos.

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