sexta-feira, 4 de junho de 2010

Capítulo x

Capítulo X

Para que se possa avaliar o quanto e como o curso de "Criatividade na Qualidade", interferiu em minha vida pessoal e profissional, farei um breve relato de minha vida no momento anterior ao mesmo e às expectativas de realizá-lo.
Não sei bem em que momento me desiludi profissionalmente, mas em era uma tortura dar o melhor de mim, pois eu o fazia. Naqueles dias, o melhor de mim era a clausura das paredes do escritório e a imaginação de que tudo o que eu fizesse não teria valor (pelo menos era por esse ângulo que eu via as coisas). Sentia-me desacreditada, sem ter chão para pisar. As ilustrações da figura 9.1, página 106, capítulo 9 - O clima que favorece o comportamento criativo, do livro de Eunice Soriano de Alencar, onde a UNICEF divulga os direitos da criança e a autora bem os estende aos direitos universais do homem, me eram como um ancoradouro.
Sem maiores perspectivas eu ansiava pelo dia em que pudesse ver o sol brilhar...
Em conversa com o meu Deus propus-lhe que, se até o final do mês de agosto/00, não acontecesse mudanças em minha vida profissional, eu tomaria uma decisão para mudá-la. Não era de uma mudança financeira que eu falava. Ë claro que não a desprezaria se acontecesse, mas era algo mais profundo. Algo entre meu serviço e eu, estávamos em crise, a beira do divórcio. Sempre gostei de fazer todas as coisas com amor e paixão, não gosto de fazer de conta que estou bem, quando não estou, nem de fingir gostar do que não gosto. E, naquele período, eu não estava nada feliz. Mas, como sempre, o Deus a quem sirvo é fiel e sempre responde as orações de seus filhos...
Inscrevi-me para a SISA, a programação estava fantástica. Logo no primeiro dia fui confrontada com o meu "eu", pude perceber que na realidade eu estava enganada sobre o meu amor pelo meu serviço ter acabado. A chama reacendeu e eu queria estar ali novamente, e reorganizar tudo, não só no serviço, mas tudo, dentro e fora de mim.... Não sei se consigo expressar toda a ebulição que se deu em meu ser... Descobri que eu queria lutar e transformar minhas frustrações em sucessos. Foi um momento único...
Dali em diante, me senti livre das algemas que me prendiam. Algemas estas que estavam em mim e não na Instituição ou no meu relacionamento com meu superior ou com meus colegas.
É importante deixar claro que, quando eu digo que dava o melhor de mim, mesmo anteriormente a essa "cura", eu quero dizer que o meu serviço corria bem, com algumas imperfeições, até naturais, mais bem. O problema era em meu interior. Como já disse, eu não gosto de estar em um lugar se todo o meu ser não estiver ali, se eu não ansiar respirar o ar local, etc... Bem, mas o que importa é que a SISA foi apenas o começo, consegui autorização de minha chefia para participar de algumas palestras na área de computação, inscrevi-me para alguns cursos naquela área, e consegui uma vaga remanescente para o Curso de Redação. Sei que fui muito criticada por isso. As pessoas imaginavam que eu estivesse fazendo isso por causa da Nova Carreira, outros pensaram que eu estava tentando me livrar do serviço, houve até quem pensasse que eu não tinha nada para fazer. A verdade é que, quanto mais me era permitido, mais eu me desdobrava para fazer o meu trabalho e, o meu rendimento passou a ser muito melhor do que antes. Eu passei a levar serviço para fazer em casa (por opção) e o fazia com prazer imenso. Alguns dias entrava mais cedo, mal almoçava e imediatamente voltava a trabalhar.
A minha clausura era a comprovação da frase "O grande paradoxo da inovação é que o maior de todos os riscos é não inovar, nunca fazer alguma coisa nova" Nolan, 1989. A SISA foi à inovação da minha carreira, com ela eu progredi muito, foi uma progressão a nível pessoal, intelectual, e em meus relacionamentos interpessoais. Para os Coordenadores do Evento, toda esta revolução é algo inimaginária, mas o que vale é que saibam eles, ou não, este marco passou a fazer parte da minha história.
Mas a coisa não parou aí, chegou a Avaliação de Desempenho, que veio reafirmar minhas perspectivas, o parecer de meu Diretor, aceitando como útil e satisfatório o meu trabalho, salvo poucas considerações (mais uma vez saliento que não trato de algo financeiro e sim de reconhecimento ou valorização pessoal e funcional) o que levou-me a alcançar a níveis mais altos de motivação extrínseca, que em consoância com a motivação intrínseca, anteriormente obtida, arrebentaram as grades daquela prisão e levaram-me direto à Extensão.

1.A Extensão

Por muitas vezes eu havia pensado em retomar meus estudos, quando estava grávida do meu filho mais novo, inscrevi-me no IEL, como aluna especial, mas os enjôos e o sono provocados pela gravidez, me fizeram desistir rapidamente.
Desde que conheci meu marido e pela desagradável experiência da separação de meu primeiro casamento, por não ter podido curtir, como eu pretendia, os primeiros anos dos meus primeiros filhos, decidi que deveria dedicar-me à família em primeiro lugar. Tal fato acabou impedindo, indiretamente, o meu crescimento profissional ao longo dos anos. Foi uma opção que fiz de forma bem consciente e da qual não me arrependo. Acho que valeu cada segundo. Mas hoje, com os meus filhos mais velhos criados, meu esposo com diretrizes profissionais mais definidas, meu filho mais novo com cinco anos, o apoio que meus pais me dariam caso eu tivesse que ir para a aula uma noite na semana, decidi voltar a estudar. E, navegando pelos cursos de Extensão, sem saber ao certo porque o fazia, desci com o cursor por diversas disciplinas e, como que em um mágico encontro, uma delas saltou no monitor: "CRIATIVIDADE NA QUALIDADE" . A DGA, onde trabalho, há muito vem dando ênfase à qualidade e a criatividade, sendo que esses temas sempre me fascinaram. A junção dos dois era perfeita.
O que vem primeiro, a descoberta da Disciplina ou a justificação que me levou a fazê-la? Parodiando, aproveito o tema apresentado por “Margaret A Boden”, referindo-se a descobertas científicas. Para mim, não importava apenas o ardente desejo de fazer aquele curso. E utilizando-me das palavras de “Thomas Edson” em carta escrita a seu agente, em novembro de 1879, eu diria: Tenho o princípio certo e estou no caminho certo, trabalho duro e um pouco de sorte (no meu caso $) também são necessários. Tem sido assim todas as minhas invenções: O primeiro passo é uma intuição (no meu caso navegar pelos Cursos de Extensão) e vem numa explosão (a disciplina saltando do monitor), depois aparecem as dificuldades (o $), uma falha aqui, outra acolá, “bugs” (orçamento comprometido; bolsa de 50%, solicitação para revisão da bolsa negada, devido ao número insuficiente de alunos pagantes) surgem, exigindo meses (no meu caso dias) de observação, estudo e trabalho (mental) intensos antes que o sucesso - ou o fracasso comercial seja alcançado (Freidel e Istrael 1987, 29:29).
Ousadia à parte, Thomas que me perdoe, mas essa foi apenas uma pequena demonstração do quanto o aprendizado pode ser absorvido e apreciado.
O resultado, no meu caso, não foi uma descoberta científica, mas foi que a adrenalina produzida por essa "descoberta", levou-me a romper barreiras hierárquicas, temporais, de protocolo e atirar para todos os lados, até com certa incoerência. Falei com meu Diretor, com o Coordenador da DGA, com o professor aposentado que aprovou os 50% de bolsa, com o Coordenador de Extensão, com meus pais, com meu esposo. Até que, obtive 1/3 do valor ser pago, ou seja dos 50%, a negociação de efetuar o pagamento em duas parcelas, quando recebesse o 13º salário conseguindo galgar o primeiro degrau do que pretendia.
Antes desse "final feliz" um episódio relevante não pode ser esquecido. Eu ainda não sabia se o Coordenador de Extensão aprovaria ou não a revisão de minha solicitação de bolsa e teria início a primeira aula. Assim conversei com a secretária da Extensão que me autorizou assistir a aula. Para minha surpresa, a classe era composta apenas por homens, na sua maioria engenheiros, um administrador de empresas e um analista de sistemas, a professora era a única mulher, mas sua própria posição a diferenciava de mim. A verdade é que a princípio eu imaginei que seria uma tortura, o que de certa forma seria bom, pois se eu não conseguisse fazer o curso não precisaria ficar triste. Mas ao contrário, eu amei cada minuto daquela aula. De modo que nem o sexo oposto de meus colegas de classe, nem as melhores posições profissionais em que se encontravam, me intimidaram.

2.O "insight"

Após chegar em casa no primeiro dia de aula, estava eufórica, beijei meu esposo, meu filhinho, comi alguma coisa, brinquei um pouco com eles e depois me sentei em frente ao computador, dando início a um projeto para atualização da página da Área de Serviços Complementares, aproveitando que, na época, eu estava fazendo um curso na área.
Interessante que se comprovou a teoria de “Stein”, a SISA, o Curso de Ferramentas Gráficas, os conselhos da Instrutora do Curso sobre a forma de se elaborar uma página, a complexidade do assunto, foram a PREPARAÇÃO. Os estudos sobre o assunto, as pesquisas em sites semelhantes, foram a INCUBAÇÃO. E naquela noite, durante a aula, ou no caminho de volta, não sei bem, o "INSIGHT". As idéias até aquele momento estavam soltas, flutuavam sem se conectarem, até que se juntaram coordenadamente. O fato é que o resultado foi uma noite de trabalho e no dia seguinte eu estava tão disposta, como poucas vezes estive. De posse de meu projeto, fui para o trabalho.
Lá chegando, tive que lutar muito comigo mesma, pois algo me sugeria que poderia ser o maior fiasco, que meu Diretor desprezaria meu trabalho e ele de nada serviria, eu seria a chacota do ano, etc... Mas o que emergia de dentro de mim, era muito maior do que essas assombrosas sugestões. Criei coragem e coloquei o projeto esboçado sobre a mesa do meu Diretor. Algum tempo depois, ele me chamou e disse que eu deveria procurar por um colega que tinha coletado dados para a atualização da página e juntos poderíamos estar desenvolvendo um trabalho.
A experiência foi estupenda, naquele instante eu queria agradecer ao meu Diretor, devido ao respeito que tenho por ele, me contive. A experiência foi tão positiva, que eu queria mais, minha fome de saber era inesgotável. O Curso de Redação ia de vento em popa. Como nos velhos tempos de Colégio, antes dos da Faculdade, eu escrevia com paixão, e agora eu revivia aqueles momentos tão maravilhosos de minha vida. As aulas eram um enlevo à alma e tudo se ia somando prazerosamente.

O êxtase de uma criação não reside no mero alcance, mesmo que pleno, de um "insight", nem tampouco, na simplória alusão de delineá-la hipoteticamente, mas na real e absoluta capacidade de nos envolvermos com e por ela,elucidando-a, de maneira tal que muitos dos que nos rodeiam e tem um parecer relevante sobre o seu tema possam entorpecer-se com ela, assim como nós...

3."O escritório do Dr. Rafael"

O segundo dia de aula foi igualmente fantástico, mas quem realmente gostou do resultado dele, foi meu filhinho Rafael. Antes de sair de casa, ele havia trazido uma caixa imensa de papelão, na qual estava a televisão que meu irmão havia comprado. Eu fiquei irada por ele estar trazendo lixo para casa. Como estava com pressa, deixei a caixa em um canto da casa, para depois colocá-la no lixo reciclável. Fui para aula e ao voltar, após a primeira técnica de relaxamento dada, estava vendo a vida diferente. A caixa, que há poucas horas não passava de lixo, tinha criado forma e cor diferentes (como a descoberta do “post-it”, o inservível transformou-se no genial). Aproveitando o convívio com meus colegas engenheiros e quem sabe se, por “osmose telepática”, eu decidi construir o escritório do Dr.Rafael. Com direito a escrivaninha, cadeira, estante de livros, telhado vermelho, plaqueta na porta, janelas, portas e outros acessórios que se foram somando. Ele amou a idéia e o melhor de tudo foi que quando eu precisava estudar, ele me acompanhava entrando em seu escritório e passando lá muito tempo).

4.Introspecção

Todo esse prazer levou-me a repensar muita coisa, a buscar conhecimento
e revisar aprendizado. Cada aula, foi marcante, cada momento que a seguiu foi mágico, as técnicas de relaxamento acrescentaram muito à minha vida. Sei que consegui resolver muitas situações interiores, outras não chegaram a cura completa, mas descobri o caminho para alcançá-la. Não tenho dúvida de que não quero parar novamente. Por outro lado, pude descobrir que tenho limites, preciso aprender sim, mas não adianta acumular novos conhecimentos sem que haja tempo para assimilá-los.
Como disse “Peter Drucker” - cada prática se baseia em uma teoria, mesmo que seus praticantes não a conheçam.
Para “Wladimir F.N. Martinez” - O pensamento estratégico é a arma das empresas que querem crescer de forma planejada e não apenas por inércia.
Como concordo com ele na íntegra, farei isto na minha vida. Em primeiro lugar, buscando saber onde quero chegar. Em segundo lugar, buscando meios para isto. Em terceiro lugar, reconhecendo minhas limitações, como é o caso do hipotireoidismo que pode ser controlado mediante medicação; Em quarto lugar, adquirindo novos conhecimentos e inovando os existentes. Às vezes acertando, às vezes errando, mas nunca deixando de criar, não me obrigando a fazer coisas de que não goste ou não esteja a fim. Compreendendo os princípios éticos da criatividade, que estão em reconhecer que você pode errar e acertar, mas sempre tem que respeitar a opinião dos outros e estar aberto a permitir que os outros aprimorem suas idéias. Reconhecendo a importância dos estudos de “Hill e Amabile”, farei todo o possível para contar com os componentes básicos para a criatividade individual: recursos, técnicas e motivação. É claro que o primeiro componente é o mais complicado de se obter, especialmente no que compete aos recursos financeiros, mas utilizando o processo de solução de problemas e as técnicas de relaxamento, espero, em breve, estar resolvendo isto.

5.Agradecimentos

Sei que isto não é uma tese de mestrado, doutorado, um livro ou algo parecido, mas eu não podia deixar de registrar os meus agradecimentos. ao
meu Deus pela fidelidade e bondade infinitas.
Ao meu esposo Paulo, por concordar em dispormos de um valor que, por irrisório
que seja, para nós deveria ter outro destino.
Aos meus filhos Ricardo, Ronnie e Rafael pela paciência que precisaram ter comigo e pelas horas em que não pude lhes dedicar a devida atenção.
Aos meus pais e irmãos que me apoiaram e cuidaram do Rafael, enquanto eu estava em aula.
Ao meu Diretor por todo encorajamento e apoio.
A Rose, uma das gerentes da Área em que trabalho que, com sua postura
dinâmica, criativa, íntegra me serviram e sempre me servem de exemplo.
À Coordenação de Extensão pela aprovação da bolsa e a atenção a mim dispensada.
À Profª Lúcia, do Curso de Redação por toda dedicação e apoio.
Á Profª e Zula, do Curso de Criatividade na Qualidade, que muito me auxiliou neste processo de retomada aos estudos.
Aos meus amigos, tão queridos, que me ajudaram no decorrer desta jornada
Aos organizadores da SISA, em especial à Coordenação da DGA, pelo dinamismo e visão.


Novembro/2000.

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