segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eu estava completamente eufórica (junho 2008)

Tinha ido ao Mercado próximo a minha casa onde compro há anos. O gerente me conhece bem e com certeza ficou assustado com meu olhar e comportamento. Eu não sei exatamente como estava, mas imagino que como alguém que usou drogas. Lembro-me que falava alto, contava coisas sobre minhas vendas fantásticas e que queria abrir uma loja dentro do próprio mercado. Na minha fase eufórica falar alto, ter movimentos e pensamentos super rápidos é muito comum, sem contar a convicção que tenho de sou capaz de qualquer coisa.
Eu estava muito bem arrumada. Aliás o que vinha fazendo sempre naqueles dias. Não saia sem me maquear, ter as unhas e cabelos sempre arrumados, estava magra e vestia as roupas de grife que vendia. o que me dava um ar de sofisticação.
Dirigi-me ao restaurante do local, onde encontrei com duas funcionárias conversando na fila de entrada. Uma delas, bem jovem estava quase chorando e contando a outra que havia ficado grávida e que precisaria casar-se, mas não sabia como contar aos pais. Compadeci-me dela, pois meu estado eufórico não me fazia ter menos amor pelas pessoas e muito menos tentar ajudá-las, até porque eu me sentia muito forte e capaz disto naquelas fases. As convidei para almoçarem comigo. Insisti para que pedissem o que quisessem. Elas ficaram encabuladas com o convite e tentaram recusar, mas eu fui incisiva e as fiz sentar-se comigo.
Depois que pedimos eu comecei conversar com as duas, "aconselhar" a moça grávida e lhe dar força. Cheguei até a me oferecer para conversar com os pais dela. Por aí dava para perceber o quanto eu estava maluca, quem em sã consciência ia se oferecer a um papel desse para alguém que sequer conhecia.
No meio da conversa contava minha história de vida e não somente elas poderiam ouví-la, mas os que estavam próximos.
O gerente, meu conhecido deu um jeito de vir ao restaurante e se sentar na mesa defronte a minha e ficava me olhando para ver minhas atitudes. Eu pude perceber que ele pretendia pedir ajuda caso eu continuasse agindo daquele modo, o que continuou afinal era incontrolável. Quando ele pegou no celular eu percebi que ele poderia chamar o SAMU (interessante como um lado de mim também me via em surto). Me apressei a buscar ajuda por mim mesma.
Liguei para meu ex-marido. Implorei que ele viesse me buscar no mercado e que fosse rápido. Ele estava na minha casa com nosso filho. Então assim que recebeu a ligação e percebeu que eu estava muito estranha foi para lá.
Quando chegou me viu com as meninas achou muito estranho. Eu contava coisas como o o fato de meu namorado ter brigado comigo.
Nós estávamos divorciados há uns dois anos. Ele tinha uma namorada, mas éramos bons amigos. Comecei pedir que ele ligasse para o rapaz, meu namorado e dissesse que não levasse em conta as coisas que nos levaram a brigar e que viesse converçar comigo.
Cheguei mesmo a discar e colocar o celular nas mãos dele, mas felizmente ele desligou antes que começasse tocar.
Eu comecei a chorar pedindo a ajuda dele e com bastante esforço ele conseguiu me levar para casa pagando a conta.
Eu continuei numa escalada de euforia, confabulando coisas que imaginava ser corretas. A meu ver eram.
Liguei para minha amiga Roseli. Eu queria que ela deixasse a boutique que trabalhava e viesse gerenciar a loja que eu pretendia montar.
Marquei de visitarmos uma loja que estava fechando e o dono estava arrematando todo o estoque.
Chegando lá comecei separar peças compulsivamente. Um representante, que havia me apresentado ao dono da loja, percebeu meu estado e me conteve dizendo que eu deveria ir para casa e só na segunda voltar para fecharmos negócio com calma. Devo a ele não ter ficado ainda mais endividada.
A questão de vender eu vendia muito bem e ainda tinha vendedoras que me auxiliavam mesmo sem loja. Mas receber era mais complicado, nunca fui boa cobradora. No
caso das vendas tive alguns calotes e demoras para receber muito do que vendi.
A noite eu tive a idéia de forjar que não estava bem com isso minha mente doente imaginava conseguir aproximar as pessoas. Minha mente doentia imaginava que eu fosse conseguir trazer as pessoas para igreja e coisas assim.
Não que eu fosse uma evangélica bitolada ou fanática. É natural que quando nos sentimos bem em determinado lugar queremos ver os que nos são queridos conosco, mas neste caso era um exagero assim como todas as minhas atitudes da fase eufórica.
Entrei para meu quarto, disse ao meu filho caçula que não tivesse medo, pois eu estava bem. Fiquei ali com ele e comecei falar coisas que não faziam qualquer sentido.
Falava isto em alto e bom som de forma que percebi que algumas pessoas se aglomeravam na frente de minha casa, do meu quarto, podia perceber seus cochichos, mas creio que eu as ouvia dizer coisas que não correspondiam ao que realmente diziam.
Quando as pessoas se aproximavam da porta eu dizia que não deveriam entrar.
Em algum momento eu cheguei a dizer: "pamonha de Jesus Cristo" e dava risada pois minha mente doentia achava que isto aproximava as pessoas se aproximavam de Jesus.
Chamei pelo meu psicólogo Jamiel e cheguei a pensar que o haviam chamado e até mesmo o imaginei lá fora em oração.
Meus filhos estavam lá. Meu pai, irmãos, pai, a amiga Roseli e ex-marido também.
A única pessoa que permiti que entrasse no quarto junto comigo e com meu filhinho foi minha amiga. Na minha mente doente eu imaginava que ela era minha aliada. E ela percebendo que meu filho estava assustado, assim como ela própria estava, conseguiu me convencer a deixá-lo sair.
Passei mais de uma hora no quarto praticamente gritando coisas estranhas.
Não sei bem em que momento, mas me convenceram me trocar para irmos dar uma volta.
Assim foi e entrei no carro com meus dois filhos mais velhos e meu ex-marido que mesmo apavorados tentavam me deixar tranquila.
Quando percebi que estávamos chegando ao hospital e vi que meus dois filhos desceram do carro para explicar a situação e pedir que viessem me buscar. Eu acabei facilitando minha internação, pois imaginei que tivessemos ido ver meu namorado que tinha tido um infarto ou sofrido um acidente. Ainda em casa pedi que ligassem para ele, sabia que ele estava dando um curso e imaginei que enquanto vinha para Campinas tinha sofirdo ou acidente ou mesmo passado mal. Soltei do meu ex-marido e entrei correndo pela porta do pronto socorro perguntando onde estava ele.
Imediatamente dois enfermeiros me seguram com força e me levaram para sala de observação onde me colocaram uma camisa de força. Foi o momento mais degradante e deprimente da minha vida. Quando me vi amarrada voltei a mim e passei a perceber o que estava acontecendo. Senti-me a pior das criaturas. O fundo do poço tinha ficado bem acima de onde eu estava agora. Tudo o que temi a minha vida toda acontecera (leia meus dezoito anos e a internação de minha mãe para entender porque). Eu tinha elouquecido.
Queria voltar atrás, mas já não tinha jeito. Eu tinha surtado. Que dor tremenda me tomava, porém eu precisava ser forte e provar que já estava bem.
Mas depois que você é internada com um surto nenhum retorno a realidade é capaz de o tirar dali com tanta rapidez.
... coninua

Um comentário:

  1. Ainda bem que podemos contar com os amigos. Até o rapaz do mercado, ficou preocupado com você. Ainda existe muita gente boa nesse mundo.
    Saúde!

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