domingo, 25 de abril de 2010

A vida é mesmo assim


Uma angústia me consome sem nenhuma notícia de você.
Ontem o percebi absorto, olhando para o nada.
Tentei compreender e não obtive resposta.
Minhas mãos estão trêmulas, a circulação falta às vezes;
Minha mente divaga em preocupações.
Tento relembrar o dia de ontem para compreender algo nas entrelinhas.
Minha memória não ajuda em nada e me deixa ainda mais irritada.
Lembro-me apenas de nós. E estávamos felizes. Apesar de eu ter programado coisas de última hora, o que você detesta você parecia bem.
Como não consigo me acalmar decidi tomar um citalopran excedente.
Meu pai ligou a pouco avisando que minha vizinha. Mulher dinâmica, trabalhadora, 64 anos, sempre preocupada com a saúde. Um infarto e ela se foi.
Acabo de voltar da casa, pois não irei ao velório.
A situação dos familiares me reportou a perda de meus entes queridos. A dor é inevitável não só pela morte da Léo a quem conhecemos há anos, quase que a vida toda, mas pelas inevitáveis lembranças dos que se foram.
A vida é assim, em um instante deixamos de existir. Por esta razão cuido de viver cada minuto. Precisamos estar sempre prontos e bem com Deus. Isto é bem difícil para nós mortais pecadores. Só Jesus para nos ligar ao Pai, pois a morte é inaceitável sem Ele.
Meus pensamentos estão desordenados, mas há nexo até mesmo no desconexo.
Quando ouço sobre a morte de alguém, lembro-me dos meus entes queridos que se foram.
Volto através dos anos na lembrança e vejo a sala da casa de meus avós, pessoas a volta de um caixão e por toda parte. Homens de terno e mulheres de roupas pretas ou cinza por toda parte. Choros e cheiro de vela. Desmaio de minha tia e mãe e tristeza absoluta no ar. Eu ainda pequena. Vivia pendurada nele em todo canto. Lembro-me que me sentava aos seus pés enquanto ele preparava seu cigarro de palha sentado na cadeira de ferro na área de casa. Ainda sinto o calor do sol que fazia ali à tarde. Eu ficava matraqueando sem parar ao lado dele, contando coisas que havia feito ou que queria fazer.
Minha avó materna quando partiu me deixou desesperada. Minha grande amiga e companheira. Pensei que enlouqueceria. Não chorava na frente das pessoas, mas me desfazia em lágrimas e soluços no banheiro de casa. Os dois velórios foram na casa deles, meus avós. Naquele tempo era assim.
Depois o meu tio João, todos aqueles meses de sofrimento horrível com o câncer.
Ele já havia sofrido o tempo todo.
Lembro-me dele magrinho no hospital e minha prima Glória sempre presente.
Depois o tio Paulo e tia Alice, não fui vê-los, mas senti. Não de chorar com lágrimas, só com sentimentos.
Um namorado dos tempos de adolescente, o Beto, atirou-se na frente de um caminhão, não estava bem psicologicamente é claro. Mas não fui ao velório, só soube muito tempo depois.
Quando a Lia morreu desmoronei. Eu a amava muito. Estava no final de minha gravidez, felizmente o Rafa veio para preencher a lacuna que tinha ficado.
Depois meu primo José Luiz, como eu amava aquele primo. Éramos da mesma idade e sempre fomos muito amigos.
Quando foi minha amiga Simone, nossa que choque. Sabia o quanto ela estava sofrendo com um tumor na cabeça. A última vez que a visitei ela mal me conheceu, por um único momento fez um gesto com a cabeça que demonstrou que eu era importante para ela. Mas não a lembro ali prostrada naquela cama, cadavérica e incapaz, nem cheia de dores. Ainda me lembro dela vindo me buscar para sair, ir a Igreja. Aquela mulher alta, esguia, bonita e inteligente. Sempre a vejo em pessoas pela rua. Não seu espírito, mas sei jeito se assemelha as pessoas. Lembro-me dos seus gestos e trejeitos.
O tio Zé estava na UTI quando fui visitá-lo. Estava em coma mas falei com ele e ele apertou minha mão mesmo sem abrir os olhos. Foi uma cena incrível. Gostava demais dele. Queria que ele saísse desta, mas sabia que não iria sair.
Ainda me lembro do meu tio Luiz bonito e sorridente. Apesar dos problemas de relacionamento que minha tia Raquel tinham formavam um casal lindo. Sempre muito educados e atenciosos um para com o outro.
Então foi meu golpe maior, a perda da minha tia Tana. Ela estava com câncer e sofrendo muito e em sã consciência não a queríamos assim. Eu que era totalmente ligada a ela sofri aos rodos. A cada definhamento, a cada incapacidade dela sofri. Vê-la não sendo mais a líder e auxiliadora de toda família, a mulher mais forte que jamais pude conhecer. Sua garra, força e coragem sempre foram um exemplo de vida para mim e para todos. Sua proteção e cuidado era algo insuperável humanamente falando. Um espírito de doação inigualável aos nossos olhos. Outro dia comentava com meu filho de como ela era ímpar. Quando meu irmão mais velho e eu éramos pequenos morávamos com ela. Sempre que recebíamos visitas da família ficávamos ouvindo histórias assombrosas do tempo da fazenda. É claro que quando íamos dormir ficávamos com medo, então os dois invadíamos a cama de solteiro dela e nos escarrapachávamos para dormir, francamente não compreendo onde é que ela ficava. Bem, não é necessário dizer o quanto sofri com a morte dela, mesmo sem ter chorado na frente de ninguém, Solucei noites e noites sentindo sua ausência.
Tio Alberto se foi e apesar de considerá-lo éramos mais distantes.
Então foi a tia Leonor, aquela era outra tia que pensei que fosse durar para sempre. Ela amava contar histórias engraçadas, vivia andando de um lado para outro, aos oitenta anos ainda tinha disposição para viajar sempre visitando os parentes e amigos. Na última vez que a visitei fiquei inconformada ao vê-la parada em uma cadeira de rodas, mal falava, nem sempre reconhecia as pessoas.
Depois morreu o tio Jorge, não fui ao velório. Ele também vinha doente há alguns anos, mas era uma doença psíquica, fisicamente estava bem.
Quando recebi a notícia da morte da tia Ana eu fiquei estática, naquela época eu andava depressiva e apesar de querer me despedir dela e abraçar os parentes não consegui ir. A tia Ana era uma daquelas tias bonachonas, delicada e elegante. Amava ouvir as histórias dela. Sempre contava coisas que minha tia Tana gostava de deixar passar. Quando vinha nos visitar era sempre uma festa. Sua presença era deliciosa. Infelizmente nos últimos anos passou a remoer coisas tristes de sua vida e ao invés de permanecer sendo aquela pessoa alegre passou a ser uma mulher triste e amargurada.
Então foi a vez da tia Rosa, tão querida. Sempre muito falante. Seu jeito de italiana era engraçado e acolhedor. Uma das tias muito próximas e queridas. Umas semanas antes de sua morte veio nos visitar e conversamos muito. Felizmente estava em casa naquele dia, foi maravilhoso poder guardar aquela imagem alegre dela.
O fato é que eu raramente choro, hoje talvez até pelos medicamentos que me acalmam. Mas eu sempre fui durona mesmo, não que não sofresse demais por dentro. Só me vi chorando a rodos quando estive depressiva. É como se o choro não fizesse parte de mim.
O citalopran excedente me deixou bem calma. Apesar do desejo de notícias suas, consigo me manter tranqüila.
Como meu filho não voltará hoje de viagem vou me deitar e dormir para começar a nova semana bem disposta.
Espero que amanhã possa compreender tudo o que houve e saber que você está bem.

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